sexta-feira, 15 de abril de 2011

Walter Mead: Os EUA reavaliando o Brasil

"Um maraviloso momento de conjunções de interesses e oportunidade de reaproximação". Esta foi a ênfase dada por Walter Mead em sua análise das Relações Brasil-EUA no evento promovido pela Amcham na Associação Brasil América, na última segunda-feira, 11 de Abril.

Ladeado pelo Cônsul Americano no Recife, Christopher del Corso, e pelo gerente de Relações Internacionais da Amcham, Economista Jorge Jatobá, Walter Mead fez uma panorâmica análise das relações Brasil-EUA.

Falando a respeito de como a América vê o Brasil e os brasileiros, Walter Mead não poupou elogios. O ex-presidente Lula, para ele, conseguiu ofuscar a irriquietude do venezuelano Hugo Chavez, mostrando que um governo de esquerda pode atuar conciliando capitalismo arrojado, riqueza e assistência social. Também mencionou que por muito tempo os brasileiros viram o comércio internacional como seu algoz. Mas hoje há brasileiros entre os níveis mais alto de conhecimento e técnica em diversas áreas: empreendedores, cientistas, engenheiros. “E eles estão ganhando o jogo”, ressaltou o analista.

O Brasil, diz o cientista político, é hoje equiparável a Alemanha, França ou Japão: é um ativo e sério participante do jogo: atrativo para investimentos, democrático e politicamente estável, e com vários desenvolvimentos técnicos autônomos, como a avançada pesquisa em agricultura, que estaria permitindo o país expandir sua produtividade agrícola com ônus controlado ao meio-ambiente. Geopoliticamente, o Brasil não é um rival, mas a chave de entrada para o mercado sul-americano.

Quanto à sua inserção na governança global, comentou o G20 e o Conselho de Segurança da Onu (CS): O G7, segundo Mead, não era um fórum de tomada de decisões, por excelência, e o G20 também não o será. E quanto ao CS, o Brasil poderia preparar-se para a frustação: ele não será reformado porque a China estará pronta para deter a entrada da Índia e do Japão.

Walter Mead, portanto, abrilhantou uma noite chuvosa do Recife com uma discussão de alto nível. Veio, certamente, com uma atitude diplomática, sem discutir arguras do passado, embrólios comerciais, etc; mas apontando para o que houve de bom no passado, e as lições que podem ser aprendidas mutuamente.

E deixou uma mensagem para o Recife: se os estrangeiros ainda olham prioritariamente para o eixo Rio-São Paulo, isto não é nada mais do que uma opção natural. Assim como os EUA chamam à mente New York, a França chama Paris e Indonésia chama Jacarta. Cabe a Pernambuco e ao Recife sua auto-promoção para uma inserção ainda maior no mundo internacionalizado.

História

A primeira visita oficial de estado ocorrida nas relações Brasil-EUA foi a do Imperador D. Pedro II na Exposição Universal da Filadélfia em 1876. O Imperador deixou ótima impressão nos EUA e criou laços apontando para a aproximação entre os dois países. Naquela época o Brasil ainda estava mais relacionado com a Europa, sobretudo a Inglaterra, e sua política exterior para a América focada sobremaneira nos vizinhos do cone sul. Em 1906, o Chanceler de Estado Elihu Root realizou uma visita oficial ao Brasil, começando exatamente ao Recife. Nesta época sim, a política externa brasileira começara a voltar-se cada vez mais para os EUA.

Entretanto, Mead lembra que se os EUA tornaram-se o principal assunto da pauta de relações exteriores brasileiras no século XX, a recíproca não foi verdadeira. Ocupado em diversas incursões globais, os EUA não devotam muita atenção, segundo Mead, a países que mesmo sendo de ampla relevância, como o Brasil ou a Alemanha pós-89, não estão em áreas que representam riscos à segurança americana.

Para Walter Mead, o continente sul-americano representa hoje uma ilha de paz no cenário global. Ele não mencionou, entretanto, as bases militares na Colômbia. Quando indagado a respeito da refundação da Quarta Esquadra (comando da marinha americana com operações no Atlântico Sul), expressou, diplomaticamente, que as razões eram puramente humanitárias, e com foco no Caribe.

(o autor pede desculpas pelo atraso na postagem, ocorrido por razões técnicas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário