quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sérgio Vieira de Mello, um diplomata brasileiro.


A maioria dos brasileiros ainda não sabe quem foi Sérgio Vieira de Mello. Até mesmo aqueles que trabalham com política internacional, conhecem, mas não atribuem a devida importância ao funcionário da ONU, morto em um atentado, em Bagdá, no Iraque, em agosto de 2003, enquanto exercia o cargo de representante especial do secretario geral da ONU à época, Kofi Annan.

Esse brasileiro, carioca, filho de diplomata brasileiro, radicado na Europa, mas especificamente na França, estudou filosofia em Sorbonne, Paris. Logo após a graduação ingressou no escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – Acnur, em Genebra. Um organismo das Nações Unidas que desenvolve programas para o repatriamento, assentamento e desenvolvimento de refugiados em todo o mundo.

Notabilizou-se por sua capacidade de conciliar conflitos e seu convincente discurso idealista, sem perder o jeito pragmático do realista, adquirido com as experiências no Alto Comissariado. Apesar de ter concluído o pós-doutoramento em filosofia, era um homem de campo, não tinha aptidão para ficar em escritórios, nem academias, sempre buscava a resolução de causas humanitárias mais complexas.

Em 34 anos de serviços prestados à ONU, serviu, dentre outros lugares,em Bangladesh, no Sudão, no Chipre, em Moçambique, no Líbano, no Camboja, na Bósnia, em Ruanda, no Congo, em Kosovo e no Timor Leste, por último e fatalmente no Iraque.

De acordo com Richard Holbrooke, ex-embaixador dos EUA na ONU, quando comentou sobre a indicação do diplomata brasileiro para o Iraque, no documentário “A caminho de Bagdá”, em sua homenagem, “Vieira de Mello era o mais hábil negociador, o diplomata mais preparado, o melhor representante que Kofi Annan tinha”. Também do mesmo embaixador, em entrevista no Rio de Janeiro, quando em visita ao nosso país: “por que vocês não fazem uma matéria de capa com o Sérgio, ele é o mais importante funcionário público internacional do Brasil?”.

O que mais era evidente em Vieira de Mello é que em momento algum da história da Organização das Nações Unidas ninguém, nunca, incorporou tão bem os ideais e princípios da instituição, aliás, ele foi o que a Organização deveria ser. Seria, conforme muitos colegas da ONU, o sucessor de Kofi Annan, secretário geral da ONU à época.

Uma de suas melhores atuações foi no Timor Leste, que deixara de ser colônia de Portugal, mas fora invadido pela Indonésia, com resultado fatal de 200 mil mortes de timorenses. A ONU negociou, junto a Indonésia, a possibilidade de 800 mil habitantes do Timor votarem pela independência, ou não; 78,5% votaram pela independência.

Mas, milicianos do Timor Leste e os militares indonésios, irromperam um contra-ataque e destruíram as cidades e o interior, matando os simpatizantes da independência, em resposta as comemorações dos timorenses que festejavam a vitória nas urnas. A situação se agravou, com severas críticas contra a atuação da Acnur, e depois de muita negociação dentro da própria ONU, com agravos de algumas potências mundiais, formou-se uma força internacional, liderada pela Austrália.

A indonésia recuou, a milícia cedeu, e o Timor Leste finalmente começara seu tardio processo de independência, tendo a frente um alto oficial da ONU com poderes de administrar o país até que as instituições se consolidassem. O nome indicado foi o de Sérgio Vieira de Mello, que permaneceu no Timor por mais de dois anos.

Ele tinha um país para reconstruir, partindo do zero. Essa pacificação seria um grande obstáculo a ser superado com muita sabedoria e espírito democrático. Mas, como afirmou Kofi Annan, Vieira de Mello era um “soldado da humanidade... ele era um homem de paz”.

Ao final de mais de dois anos Sérgio deixou o Timor Leste, sabendo que havia muito para ser feito, mas, com a consolidação da independência dos timorenses, com as instituições funcionando, um sistema bancário, um serviço público, uma moeda, recuperado centenas de escolas, recuperado dezessete usinas de força rurais, treinado milhares de professores, recrutado mais de onze mil funcionários públicos para quinze mil cargos, criado dois batalhões de exercito e uniformizado mais de 1500 policiais. A ONU ao final investiu 2,2 bilhões de dólares, mas outras missões foram mais dispendiosas e menos exitosas. A presença de Vieira de Mello foi imprescindível, como também foi quando esteve no Camboja.

O grande desafio das missões como a do Timor Leste, é ter a população como aliada, não deixar que imaginem ser aquela administração permanente, usurpadora do poder, ou demorar mais do que o necessário e isso Sérgio Vieira de Mello fazia com maestria. Sempre procurou ouvir a população local, apesar das contradições do sistema.

Esse artigo não tem a intenção de citar as diversas missões do diplomata Sérgio Vieira de Mello, mas insultar o leitor a procurar entender como um brasileiro, pouquíssimo divulgado no Brasil, tornou-se um dos homens mais notáveis na história da ONU.

A sua presença no Iraque foi por pressão das potências que faziam a coalizão com os EUA, pois o secretário geral, Annan, não queria liberá-lo para assumir o posto fatal. A coalizão procurou-o pessoalmente e convenceram-no. O presidente dos EUA, Bush, ficou convencido de sua competência após recebê-lo na Casa Branca.

Uma invasão realizada pelos EUA sem o consentimento do Conselho de Segurança da ONU, que precisava de alguém muito experiente e que representasse, mais do que qualquer outro, os princípios democráticos da instituição, na coordenação das forças de coalizão.

Com o pouco tempo que teve no Iraque, mesmo assim, antes de morrer, Sérgio já havia rodado todo o país, conversado com todas as facções e tencionava a criação do conselho representativo dos iraquianos. Já havia afirmado que faria de tudo para defender os interesses do povo iraquiano.

Sérgio foi um militante de 1968, mas já houvera aprendido que o diálogo era o melhor instrumento de ação que possuía. Um homem capaz de exigir o cumprimento das normas de forma, se necessário, ríspida, mas conseguia abrir um simpático sorriso em uma tentativa de negociação. Ouvia todos envolvidos em uma questão e tratava-os como se fossem os únicos.

Morreu em um atentado terrorista, como todo ele, covarde, desumano, sem podermos lhes conceder uma justa homenagem. Em um mundo onde precisamos ultrapassar as diferenças das barreiras sócio-culturais, dos preconceitos, das fronteiras soberanas, Sérgio Vieira de Mello era a multilateralidade em pessoa, acreditava e incorporava os princípios que regiam a ONU.

Vieira de Mello um brasileiro do mundo, um diplomata da paz!

Mentalidade Internacionalista

Pernambuco foi o estado que mais cresceu no Brasil, no ano de 2010 em relação a 2009, obtendo o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 9,3 %, superando a taxa nacional de 7,5%, a terceira maior do mundo.

Essa condição foi obtida através de um forte processo de investimentos, em todos os setores da economia. O estado recebeu a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, há possibilidade de um grupo italiano instalar outro estaleiro, a FIAT vai construir uma fábrica em Goiana,várias empresas se instalam no complexo de SUAPE, entre outras atividades que foram implementadas no estado, graças ao fomento instalado.

Podemos prever ainda que todos esses investimentos tragam, por efeito cascata, outros diversos empreendimentos ligados ao fornecimento de serviços, infra-estrutura, peças, treinamento, qualificação, construção civil, entre outros.

Está previsto a criação de mais 4,5 mil novos empregos, deduzimos que consumirão mais produtos e mais serviços, circulando mais riqueza.

Desse desenvolvimento nascerão relações dos pernambucanos com pessoas, físicas e jurídicas, de todo o mundo, então, a pergunta que ecoa é: será que o pernambucano está preparado para lidar com esse ineditismo, ou esse grande desafio?

Pernambuco nunca viveu uma condição tão propícia ao desenvolvimento como a atual. Estamos nos inserindo no mercado mundial, somos calouros nas relações internacionais. As empresas estrangeiras estão se instalando em nossas terras.

Superamos grande parte dos obstáculos, entraves políticos, legais e consuetudinários, mas nossa educação, nossa cultura e formação técnica já suportam a relação com o estrangeiro, já possuímos uma mentalidade capaz de entender a cultura exógena? Comerciar com culturas diferentes da nossa, não só realizando negócios internacionais seguros, mas amadurecendo uma nova prática comercial interdependente e universal, desbravando novas fronteiras, realizando um caminho inverso da colonização, consolidando uma nova prática desenvolvimentista?

Já sabemos e entendemos o que são “relações internacionais”? Se não sabemos, corremos o risco de não consolidarmos todo o investimento realizado, pois captar recursos e empresas para investirem em Pernambuco é apenas uma parte do que significa RI. Muito mais temos que aprender sobre o assunto para consolidarmos o esforço despendido.

Nem todos precisam ter expertise em relações internacionais, mas as pessoas físicas e jurídicas privadas, e, principalmente, o estado de Pernambuco e seus municípios, precisam ter em seus quadros profissionais da área para assessorá-los.

Muitos estados brasileiros já possuem assessorias, ligadas diretas ao gabinete do governador, ou até mesmo secretarias de relações internacionais. Mais ainda, mega-cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Recife, já possuem em seus quadros assessores de RI, por que o estado de Pernambuco não tem?

Fernando Henrique Cardoso (Estado de São Paulo, São Paulo,p A2, 9 ago.2003) afirmou, ao propor um pacto “entre as nações”: “ o novo século está ávido, por uma nova agenda. Não porque o tempo transcorreu, mas porque neste percurso o mundo mudou, a economia mudou, as forças sociais e políticas mudaram e a própria cultura mudou”

O sociólogo e ex-presidente do Brasil propôs um pacto entre as nações, nós propomos, em nosso universo nordestino, um pacto entre governantes que promova a difusão da mentalidade internacional, iniciando, principalmente, com a reestruturação da organização institucional dos estados.

É inevitável a criação de uma assessoria ou uma secretaria com expertise em relações internacionais. Pois o que antes era privilégio do governo federal, hoje, cada vez mais, torna-se comum nos estados e os municípios. Estão sempre realizando contratos com entidades do exterior, como por exemplo, Banco Mundial, fundações, ONGS, empresas, como a Fiat, etc. Lidam inclusive com presidentes, primeiros ministros, reis (rainhas). É preciso saber como lidar com todos esses representantes do sistema internacional.

Inserimos-nos na interdependência complexa do sistema internacional, mas precisamos possuir uma mentalidade internacionalista.

Joseph S. Nyer Jr. e Robert O. Keohane ( Transnational Relations and World Politics, Cambridge, US: Havard University Press, 1972. P. 371), sentenciou: “ a política mundial está mudando, e nossos paradigmas não estão acompanhando o ritmo.”, comentando à época, a dificuldade da mudança de paradigmas. Nós viajamos no tempo e importamos seu comentário à realidade atual de nosso estado, em relação a celeridade da implantação da mentalidade internacionalista (novo paradigma).

Precisamos mudar de paradigmas, mas não só para nos adaptar ao sistema, mas, principalmente, para conquistarmos a vanguarda da mentalidade internacionalista, criando nossos próprios conceitos, ampliando nossas fronteiras, não apenas exercer uma hegemonia regional, mas para trazer crescimento universal.