terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Livre comercio Mercosul e Palestina

Mercosul assina acordo de livre comércio com Palestina nesta terça

Dilma Rousseff viajará nesta manhã para reunião do bloco, em Montevidéu.
Mercosul já havia assinado acordo semelhante com Israel no início do ano.

Priscilla Mendes Do G1, em Brasília (fonte: Globo.com)


O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em encontro com Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, em janeiro (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)O chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas,em encontro com Dilma Rousseff, no Palácio do
Planalto, em janeiro (Roberto Stuckert Filho/PR)

Países membros do Mercosul assinarão nesta terça-feira (20) um acordo de livre comércio com a Palestina. O acordo foi negociado outubro, na Cisjordânia, e será oficializado na 42ª Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do Mercosul e Estados, realizada em Montevidéu, no Uruguai, para onde embarca nesta manhã a presidente Dilma Rousseff.

O bloco econômico – que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – vai assinar o acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Palestina, Riadi Malki. O Mercosul assinou acordo semelhante com Israel no primeiro semestre deste ano, durante encontro dos presidentes no Paraguai. A informação é do porta-voz da Presidência da República, Rodrigo Baena.

O comunicado do Ministério das Relações Exteriores divulgado na época em que o acordo foi costurado informava que ele permitirá o acesso dos quatro países ao mercado do território palestino com tarifas reduzidas de importação. A Palestina também poderia exportar, especialmente produtos agrícolas, para a região do Cone Sul. Apesar da pequena produção local, os diplomatas brasileiros estimam um comércio potencial de US$ 200 milhões com os palestinos.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Piratas da Somália

Apresentamos um vídeo, no mínimo inquietante, pois nos mostra uma realidade diferente do que nos é retratada pela mídia tradicional. Essa pequena película reporta sobre quem são os piratas da Somália, por que eles passaram a atacar as embarcações de outros países, qual a motivação desses ataques?

O vídeo está sendo divulgado pela DOT SUB - ANY VIDEO ANY LANGUAGE, um documentário sob licença não comercial, produzido por Juan Falque.

Assista e opine.


http://dotsub.com/view/8446e7d0-e5b4-496a-a6d2-38767e3b520a

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sérgio Vieira de Mello, um diplomata brasileiro.


A maioria dos brasileiros ainda não sabe quem foi Sérgio Vieira de Mello. Até mesmo aqueles que trabalham com política internacional, conhecem, mas não atribuem a devida importância ao funcionário da ONU, morto em um atentado, em Bagdá, no Iraque, em agosto de 2003, enquanto exercia o cargo de representante especial do secretario geral da ONU à época, Kofi Annan.

Esse brasileiro, carioca, filho de diplomata brasileiro, radicado na Europa, mas especificamente na França, estudou filosofia em Sorbonne, Paris. Logo após a graduação ingressou no escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados – Acnur, em Genebra. Um organismo das Nações Unidas que desenvolve programas para o repatriamento, assentamento e desenvolvimento de refugiados em todo o mundo.

Notabilizou-se por sua capacidade de conciliar conflitos e seu convincente discurso idealista, sem perder o jeito pragmático do realista, adquirido com as experiências no Alto Comissariado. Apesar de ter concluído o pós-doutoramento em filosofia, era um homem de campo, não tinha aptidão para ficar em escritórios, nem academias, sempre buscava a resolução de causas humanitárias mais complexas.

Em 34 anos de serviços prestados à ONU, serviu, dentre outros lugares,em Bangladesh, no Sudão, no Chipre, em Moçambique, no Líbano, no Camboja, na Bósnia, em Ruanda, no Congo, em Kosovo e no Timor Leste, por último e fatalmente no Iraque.

De acordo com Richard Holbrooke, ex-embaixador dos EUA na ONU, quando comentou sobre a indicação do diplomata brasileiro para o Iraque, no documentário “A caminho de Bagdá”, em sua homenagem, “Vieira de Mello era o mais hábil negociador, o diplomata mais preparado, o melhor representante que Kofi Annan tinha”. Também do mesmo embaixador, em entrevista no Rio de Janeiro, quando em visita ao nosso país: “por que vocês não fazem uma matéria de capa com o Sérgio, ele é o mais importante funcionário público internacional do Brasil?”.

O que mais era evidente em Vieira de Mello é que em momento algum da história da Organização das Nações Unidas ninguém, nunca, incorporou tão bem os ideais e princípios da instituição, aliás, ele foi o que a Organização deveria ser. Seria, conforme muitos colegas da ONU, o sucessor de Kofi Annan, secretário geral da ONU à época.

Uma de suas melhores atuações foi no Timor Leste, que deixara de ser colônia de Portugal, mas fora invadido pela Indonésia, com resultado fatal de 200 mil mortes de timorenses. A ONU negociou, junto a Indonésia, a possibilidade de 800 mil habitantes do Timor votarem pela independência, ou não; 78,5% votaram pela independência.

Mas, milicianos do Timor Leste e os militares indonésios, irromperam um contra-ataque e destruíram as cidades e o interior, matando os simpatizantes da independência, em resposta as comemorações dos timorenses que festejavam a vitória nas urnas. A situação se agravou, com severas críticas contra a atuação da Acnur, e depois de muita negociação dentro da própria ONU, com agravos de algumas potências mundiais, formou-se uma força internacional, liderada pela Austrália.

A indonésia recuou, a milícia cedeu, e o Timor Leste finalmente começara seu tardio processo de independência, tendo a frente um alto oficial da ONU com poderes de administrar o país até que as instituições se consolidassem. O nome indicado foi o de Sérgio Vieira de Mello, que permaneceu no Timor por mais de dois anos.

Ele tinha um país para reconstruir, partindo do zero. Essa pacificação seria um grande obstáculo a ser superado com muita sabedoria e espírito democrático. Mas, como afirmou Kofi Annan, Vieira de Mello era um “soldado da humanidade... ele era um homem de paz”.

Ao final de mais de dois anos Sérgio deixou o Timor Leste, sabendo que havia muito para ser feito, mas, com a consolidação da independência dos timorenses, com as instituições funcionando, um sistema bancário, um serviço público, uma moeda, recuperado centenas de escolas, recuperado dezessete usinas de força rurais, treinado milhares de professores, recrutado mais de onze mil funcionários públicos para quinze mil cargos, criado dois batalhões de exercito e uniformizado mais de 1500 policiais. A ONU ao final investiu 2,2 bilhões de dólares, mas outras missões foram mais dispendiosas e menos exitosas. A presença de Vieira de Mello foi imprescindível, como também foi quando esteve no Camboja.

O grande desafio das missões como a do Timor Leste, é ter a população como aliada, não deixar que imaginem ser aquela administração permanente, usurpadora do poder, ou demorar mais do que o necessário e isso Sérgio Vieira de Mello fazia com maestria. Sempre procurou ouvir a população local, apesar das contradições do sistema.

Esse artigo não tem a intenção de citar as diversas missões do diplomata Sérgio Vieira de Mello, mas insultar o leitor a procurar entender como um brasileiro, pouquíssimo divulgado no Brasil, tornou-se um dos homens mais notáveis na história da ONU.

A sua presença no Iraque foi por pressão das potências que faziam a coalizão com os EUA, pois o secretário geral, Annan, não queria liberá-lo para assumir o posto fatal. A coalizão procurou-o pessoalmente e convenceram-no. O presidente dos EUA, Bush, ficou convencido de sua competência após recebê-lo na Casa Branca.

Uma invasão realizada pelos EUA sem o consentimento do Conselho de Segurança da ONU, que precisava de alguém muito experiente e que representasse, mais do que qualquer outro, os princípios democráticos da instituição, na coordenação das forças de coalizão.

Com o pouco tempo que teve no Iraque, mesmo assim, antes de morrer, Sérgio já havia rodado todo o país, conversado com todas as facções e tencionava a criação do conselho representativo dos iraquianos. Já havia afirmado que faria de tudo para defender os interesses do povo iraquiano.

Sérgio foi um militante de 1968, mas já houvera aprendido que o diálogo era o melhor instrumento de ação que possuía. Um homem capaz de exigir o cumprimento das normas de forma, se necessário, ríspida, mas conseguia abrir um simpático sorriso em uma tentativa de negociação. Ouvia todos envolvidos em uma questão e tratava-os como se fossem os únicos.

Morreu em um atentado terrorista, como todo ele, covarde, desumano, sem podermos lhes conceder uma justa homenagem. Em um mundo onde precisamos ultrapassar as diferenças das barreiras sócio-culturais, dos preconceitos, das fronteiras soberanas, Sérgio Vieira de Mello era a multilateralidade em pessoa, acreditava e incorporava os princípios que regiam a ONU.

Vieira de Mello um brasileiro do mundo, um diplomata da paz!

Mentalidade Internacionalista

Pernambuco foi o estado que mais cresceu no Brasil, no ano de 2010 em relação a 2009, obtendo o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 9,3 %, superando a taxa nacional de 7,5%, a terceira maior do mundo.

Essa condição foi obtida através de um forte processo de investimentos, em todos os setores da economia. O estado recebeu a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, há possibilidade de um grupo italiano instalar outro estaleiro, a FIAT vai construir uma fábrica em Goiana,várias empresas se instalam no complexo de SUAPE, entre outras atividades que foram implementadas no estado, graças ao fomento instalado.

Podemos prever ainda que todos esses investimentos tragam, por efeito cascata, outros diversos empreendimentos ligados ao fornecimento de serviços, infra-estrutura, peças, treinamento, qualificação, construção civil, entre outros.

Está previsto a criação de mais 4,5 mil novos empregos, deduzimos que consumirão mais produtos e mais serviços, circulando mais riqueza.

Desse desenvolvimento nascerão relações dos pernambucanos com pessoas, físicas e jurídicas, de todo o mundo, então, a pergunta que ecoa é: será que o pernambucano está preparado para lidar com esse ineditismo, ou esse grande desafio?

Pernambuco nunca viveu uma condição tão propícia ao desenvolvimento como a atual. Estamos nos inserindo no mercado mundial, somos calouros nas relações internacionais. As empresas estrangeiras estão se instalando em nossas terras.

Superamos grande parte dos obstáculos, entraves políticos, legais e consuetudinários, mas nossa educação, nossa cultura e formação técnica já suportam a relação com o estrangeiro, já possuímos uma mentalidade capaz de entender a cultura exógena? Comerciar com culturas diferentes da nossa, não só realizando negócios internacionais seguros, mas amadurecendo uma nova prática comercial interdependente e universal, desbravando novas fronteiras, realizando um caminho inverso da colonização, consolidando uma nova prática desenvolvimentista?

Já sabemos e entendemos o que são “relações internacionais”? Se não sabemos, corremos o risco de não consolidarmos todo o investimento realizado, pois captar recursos e empresas para investirem em Pernambuco é apenas uma parte do que significa RI. Muito mais temos que aprender sobre o assunto para consolidarmos o esforço despendido.

Nem todos precisam ter expertise em relações internacionais, mas as pessoas físicas e jurídicas privadas, e, principalmente, o estado de Pernambuco e seus municípios, precisam ter em seus quadros profissionais da área para assessorá-los.

Muitos estados brasileiros já possuem assessorias, ligadas diretas ao gabinete do governador, ou até mesmo secretarias de relações internacionais. Mais ainda, mega-cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, São Paulo e Recife, já possuem em seus quadros assessores de RI, por que o estado de Pernambuco não tem?

Fernando Henrique Cardoso (Estado de São Paulo, São Paulo,p A2, 9 ago.2003) afirmou, ao propor um pacto “entre as nações”: “ o novo século está ávido, por uma nova agenda. Não porque o tempo transcorreu, mas porque neste percurso o mundo mudou, a economia mudou, as forças sociais e políticas mudaram e a própria cultura mudou”

O sociólogo e ex-presidente do Brasil propôs um pacto entre as nações, nós propomos, em nosso universo nordestino, um pacto entre governantes que promova a difusão da mentalidade internacional, iniciando, principalmente, com a reestruturação da organização institucional dos estados.

É inevitável a criação de uma assessoria ou uma secretaria com expertise em relações internacionais. Pois o que antes era privilégio do governo federal, hoje, cada vez mais, torna-se comum nos estados e os municípios. Estão sempre realizando contratos com entidades do exterior, como por exemplo, Banco Mundial, fundações, ONGS, empresas, como a Fiat, etc. Lidam inclusive com presidentes, primeiros ministros, reis (rainhas). É preciso saber como lidar com todos esses representantes do sistema internacional.

Inserimos-nos na interdependência complexa do sistema internacional, mas precisamos possuir uma mentalidade internacionalista.

Joseph S. Nyer Jr. e Robert O. Keohane ( Transnational Relations and World Politics, Cambridge, US: Havard University Press, 1972. P. 371), sentenciou: “ a política mundial está mudando, e nossos paradigmas não estão acompanhando o ritmo.”, comentando à época, a dificuldade da mudança de paradigmas. Nós viajamos no tempo e importamos seu comentário à realidade atual de nosso estado, em relação a celeridade da implantação da mentalidade internacionalista (novo paradigma).

Precisamos mudar de paradigmas, mas não só para nos adaptar ao sistema, mas, principalmente, para conquistarmos a vanguarda da mentalidade internacionalista, criando nossos próprios conceitos, ampliando nossas fronteiras, não apenas exercer uma hegemonia regional, mas para trazer crescimento universal.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

PERNAMBUCO INTERNACIONAL


Thales Castro



Crescimento econômico e investimentos estruturais geram aumento de exposição internacional. Essa fórmula não poderia ser diferente com o Estado de Pernambuco em seu virtuoso momento de geração de emprego e renda em razão das políticas públicas federais e estaduais atreladas aos investimentos estruturadores no Estado. Tal observação é comprovada pelo aumento da instalação, em Recife, dos consulados, das câmaras de comércio e dos escritórios internacionais de promoção de investimentos, como também pelo incremento das densidades nas suas relações externas econômico-comerciais, socioculturais, políticas e jurídicas.

Em um cenário internacional de crescente interdependência, a diplomacia consular tem, cada vez mais, assumido papel de relevo nas Relações Internacionais contemporâneas, tendo Pernambuco como vértice do processo. Reforçando tal visão, a Sociedade Consular de Pernambuco (SCP), que, recentemente, celebrou 20 anos de fundação, tem construído importantes pontes de diálogo e de cooperação entre diversos atores políticos locais e internacionais. São, por meio dessas pontes, que cruciais fluxos de investimentos podem ser desenhados, aliando diplomacia consular ao desenvolvimento crescente do Estado. Já fora assinado, entre a Sociedade Consular de Pernambuco e a OAB/PE, especialmente, com sua Comissão de Relações Internacionais, convênio de cooperação com vistas a ampliar o diálogo e a participação efetiva. Além disso, está em estágio avançado semelhante convênio entre a SCP e a Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE).

A diplomacia consular representa pilar importante nas relações bilaterais e no desenvolvimento social e econômico. A prática diplomática se estrutura, especialmente, na defesa dos interesses nacionais por meio da construção permanente do entendimento, da harmonia e da cooperação entre os diversos atores internacionais. No campo consular, tal prática tem-se revelado de suma importância para a preservação da paz, para a promoção do comércio, fortalecendo, assim, a integração econômica e a cidadania em aspectos mais amplos. Tais conjunturas reforçam, em última instância, os princípios e propósitos da Carta da ONU.

Dessa forma, crescem as demandas para criação de institucionalidade, em âmbito governamental pernambucano ou de assessoramento direto do governo, para representar e centralizar tais interlocuções internacionais. Vários estados da federação, já criaram, por exemplo, Secretarias de Relações Internacionais, gerando maior dinamicidade aos negócios internacionais, à ação externa e à cooperação internacional. Em parceria com o Itamaraty, por meio de seu Escritório de Representação no Nordeste (ERENE) no Recife, essa Secretaria de Relações Internacionais reforçaria, ainda mais, o sentido humanista da prática de cidadania, da promoção dos direitos humanos, da atração de novos investimentos internacionais além do fortalecimento das instituições de direito entre os povos, gerando sinergia para todos os pernambucanos.


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Thales Castro é internacionalista pela Indiana University of Pennsylvania, EUA. É doutor em Ciência Política, assessor de Relações Internacionais da Reitoria da UNICAP e coordenador do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Damas. É Cônsul A.H. da República de Malta (www.maltaconsulrecife.eu) e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco (www.sociedadeconsular-pe.org).

terça-feira, 24 de maio de 2011

Relações conflituosas - Brasil e Argentina*


A Argentina mais uma vez coloca barreiras para a importação de produtos brasileiros, atingindo quase um quarto das nossas exportações. Nosso vizinho vem criando dificuldades para a entrada de eletrodomésticos, máquinas agrícolas, chocolates, vasos sanitários e brinquedos, reforçando as restrições anteriores de autopeças, calçados, material de transporte, toalhas, entre muitos outros itens, e assim a presidente Cristina Kirchner vai fazendo o dever de casa - naturalmente o esperado pelos produtores argentinos - para reduzir o déficit comercial em relação ao Brasil.

A resposta brasileira seria inevitável - conforme a prática das trocas comerciais em todo mundo e para as quais foi preciso criar um organismo supranacional para controlar desavenças, a Organização Mundial do Comércio, o que nem sempre consegue. Por isso, do lado de cá também estão sendo colocadas restrições para a importação de produtos do país vizinho e a gritaria por lá é enorme.

Essas são relações conflituosas que não prejudicam apenas o bom relacionamento entre os dois países mas lançam sombras sobre os sonhados propósitos de uma América do Sul unificada na defesa dos interesses comuns em relação aos países mais poderosos. Ruim, portanto, para todos. E não é de agora que Brasil e Argentina se estranham. Nos momentos em que a crise global da economia atingiu duramente os argentinos e somente pesou sobre o nosso País como uma ameaça, as medidas protecionistas pareceram o único caminho a ser adotado pelo nosso vizinho.

Agora, quando a crise aparece como mais uma mancha histórica - apesar de ter seus rescaldos na economia argentina -, a presidente Cristina Kirchner reacende medidas que restringem ou atrasam a entrada de produtos brasileiros, numa proporção que desequilibra de vez a balança: as barreiras chegam perto de um quarto das vendas, quase o dobro das medidas protecionistas em 2010.

A reação brasileira foi imediata e uma das medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff foi acabar com a importação automática de veículos argentinos, provocando reação do outro lado da fronteira em níveis poucas vezes visto nos últimos tempos, inclusive com uma troca de correspondências cheias do que nós nordestinos costumamos entender como desaforos, entre o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio brasileiro, Fernando Pimentel, e a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi.

Como seria inevitável perceber nos altos escalões dos dois governos, ficou evidente que a nenhum dos dois países cabe falar mais alto, em tom de ameaças - mesmo quando se considera a supremacia econômica brasileira -, quando estão em jogo interesses comuns que se projetam para o futuro e, principalmente, para o Mercosul. Essas tensões devem ser esfriadas em reuniões nos próximos dias, ou então ficará a sensação de que esse mercado existe apenas no papel.

*Editorial do Jornal do Commercio (PE) publicado em 24 de maio de 2011

sábado, 7 de maio de 2011

Ainda Bin Laden ...


“Especialistas em direitos humanos pedem mais informações sobre a morte de Bin Laden”, é o que informa o Boletim da ONU de 06/05/2001.

O mundo inteiro comenta sobre a operação militar que findou por capturar e matar o terrorista mais procurado do mundo.

Os comentários são diversos. Muitos questionam a legitimidade da operação, que invadiu um Estado, o Paquistão, sem autorização do mesmo. Avançaram pelo território até alcançar a casa onde o fugitivo se escondia e executaram a missão com êxito.

Os Estados Unidos teriam esse direito de invadir o território paquistanês e executar um inimigo? Não a luz do direito internacional, mas se o Paquistão não oferecer nenhuma queixa, reclamação, não haverá processo contra os estadunidenses.

Em verdade, sobre o Paquistão, sobrevoa a sombra da dúvida se estava pactuando com o terrorista, pois a casa em que Laden estava vivendo localizava-se próximo a uma academia militar paquistanesa e deixou o mundo todo perplexo como um inimigo procurado há dez anos pelas forças americanas e seus aliados estavam “ao lado”, ou melhor, dentro de território aliado, tão próximos a militares que lutam contra o terrorismo.

Afinal o Paquistão colaborou, ou não com o terrorista? O tempo dirá, pois as diversas especulações que possam ser feitas, hoje, neste sentido, vão de água à baixo quando, tanto EUA, quanto Paquistão precisam um do outro, em um jogo de simulações teatrais, necessárias dentro do equilíbrio de forças da região. Vão agir de acordo com suas necessidades. O Paquistão não questiona a invasão de seu território e reciprocamente os norte americanos não formalizam a suspeita de colaboração com o terrorista.

“Como no pôquer, blefar e enganar podem fazer uma grande diferença”, afirmou Nye (2009:75), quando comenta sobre o poder.

Essa operação vai ficar sem muitas respostas, principalmente as que esperam os especialistas de direitos humanos da ONU e a imprensa internacional.

Os Estados Unidos procuravam um inimigo de Estado por dez anos. Observem, a segunda grande guerra durou entre 1939/1945, portanto seis anos, e por dez anos os EUA entraram em duas guerras, capturaram Saddam Hussein (Iraque), prenderam centenas de supostos terroristas, ganharam antipatia do mundo inteiro, pelos seus métodos, mas não haviam capturado o líder da Al-Qaeda.

Não tinham capturado o homem que jurou destruir os estadunidenses e, cada hora que passava, tornava-se um mito, tanto para as diversas células terroristas (as franquias do terror), estimulando-as, quanto para o cidadão comum estadunidense, que já pensava em uma incompetência do Estado para lhe defender.

Os tempos são outros, talvez Barack Obama influencie, mas em outras gestões, talvez não tivéssemos direito a tanta informação (sic). Quem sabe se o helicóptero não caísse, não deixando pistas, se o Bin Laden não apareceria morto no Afeganistão, com três granadas na mão? Ou estaria sendo torturado para entregar informações úteis a guerra contra o terrorismo? São possíveis diversas conjecturas, mesmo que pareçam conspiratórias demais, ou hollywoodianas demais. Somente os EUA saberão a verdade.

O desejado, para uma comunidade internacional, um mundo de total cooperação entre os Estados, é que o Osama Bin Laden fosse capturado, levado a julgamento, com direito a defesa e condenado a pagar sua pena, mas que houvesse um julgamento.

Mas no sistema anárquico internacional o jogo do poder está sempre sugerindo que os atores mais fortes “convençam” os mais fracos, ou menos convincentes,a realizarem suas vontades, mesmos que não queiram.

Assistimos um país defender, com todas as armas, não só o seu território, seu povo, seus princípios, mas sua hegemonia. Estão se defendendo do terrorismo covarde que ceifou milhares de vidas estadunidenses e para eles não serve o argumento de que foram os EUA que criaram o Osama Bin Laden, para eles não procede.

Estavam caçando o responsável pelo ato terrorista de 11 de setembro de 2001 que matou 2.996 pessoas (incluindo os 19 terroristas seqüestradores), de 70 países diferentes.

Então não esperemos que todas as informações fornecidas serão autenticas, ou retratos verdadeiros do que ocorreu em 02 de maio de 2011, pois se precisar ocultar, ou blefar os EUA vão fazê-lo, em nome do jogo de poder, que muito bem sabem jogar.

O que podemos concluir, com a forma como terroristas executaram milhares de pessoas inocentes e a forma como Bin Laden foi morto, é que o mundo está longe de ser uma comunidade internacional, tão desejada, onde a cooperação e transparências entre os povos coordena nossa evolução.

Vivemos ainda uma anarquia fundamentada em princípios maquiavélicos onde o príncipe “na medida do possível, não deve se desgarrar do bem, mas deve saber como usar o mal quando necessário”.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Apex Brasil promove em Pernambuco evento sobre acesso ao Mercado Angolano

O empresariado brasileiro tem aprendido cada vez mais o valor do mercado africano. Os negócios na África crescem e com eles as ações de governos e entidades africanos e brasileiros para promoção de negócios.

Do site da Apex:


MERCADO FOCO Angola

Criar alternativas inovadoras que incrementem os negócios das empresas brasileiras é uma atividade constante da Apex-Brasil. Por isso, a Apex-Brasil elaborou uma nova abordagem de acesso a mercados específicos. Após análises de inteligência comercial, definiu-se Angola como o primeiro mercado foco dessa iniciativa.

Localizada numa das regiões mais dinâmicas da economia mundial e com grande potencial de absorção de bens manufaturados, Angola vive uma fase de reconstrução, com intensas demandas por produtos, serviços e investimentos. Três grandes segmentos foram definidos pela Apex-Brasil como favoráveis aos empresários brasileiros nesse mercado: casa e construção; alimentos, bebidas e agronegócios; e máquinas e equipamentos.

Em uma série de seminários nos estados de Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul, você vai conhecer o que a Apex-Brasil está preparando para o mercado angolano. A programação dos seminários inclui:

- Palestra da Apex-Brasil “Uma nova abordagem de acesso a mercados”
- Depoimentos de empresários sobre a experiência de fazer negócios em Angola
- Rodadas de negócios com tradings brasileiras que vendem para Angola
- Workshop de atendimento (informações, ações de negócios e consultoria)



Recife/PE
Data: 16 de maio
Hora: 8h30 às 18h
Local: Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco
Av. Cruz Cabugá, 767

Mais detalhes aqui

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Terror Está Vivo


Sérgio Montenegro Filho*

Não pretendo, aqui, fazer juízo de valor sobre o tratamento que os Estados Unidos dão ao resto do mundo. Nem tampouco condenar o discurso anti-americanista formulado, sobretudo, pelas esquerdas. O que me preocupou mais do que tudo – ao assistir nesta madrugada de domingo para segunda-feira, ao noticiário em tempo real sobre a morte do chefe maior da Al Qaeda, Osama Bin Laden – foi a absoluta falta de reflexão do povo norte-americano.

Ao tomar conhecimento da morte do terrorista – responsabilizado pela morte de milhares de pessoas no atentado às torres gêmeas, em setembro de 2001 – muitos americanos correram às ruas para festejar, de bandeiras em punho. Concentrações em frente à Casa Branca e em outros pontos do país foram transmitidas ao vivo pelas redes de TV dos EUA. Para o mundo todo. O que inclui o mundo árabe.

Os muçulmanos são pessoas tão pacíficas quanto os seguidores de qualquer outra religião. O que preocupa são as exceções. Aqueles que preferem interpretar o Corão pelo ângulo da violência, baseados apenas em trechos de algumas suras.

Essas pessoas, que vivem para difundir o ódio, certamente assistiram às cenas transmitidas pela televisão americana. No exato momento em que lamentavam a morte do seu líder maior – para eles, um herói – viam seus grandes inimigos comemorarem em praça pública. Se isso não é combustível para alimentar mais a raiva, nada mais é.

Em vez de se comportarem como se ninguém mais existisse no planeta, indo às ruas bradar como torcida organizada de futebol, s americanos deveriam engolir esse sentimento de vitória e comemorar de uma forma menos ostensiva.

O problema é que a maior parte da população dos EUA não entende, por exemplo, que enquanto a questão palestina não for resolvida, o ódio e o terror permanecerão. Culpa dos formuladores da política externa dos EUA, que não deixam claro ao povo que o apoio integral do país a Israel custa caro, acirra os ânimos e avoluma os problemas.

Não tiro a razão dos que perderam alguém nos atentados. Ou dos que se sentiram ultrajados com um ataque tão atrevido, dentro das suas fronteiras. Mas para combinar com o discurso feito pelo presidente Barack Obama ainda na madrugada – destacando que a morte de Bin Laden representava uma busca pela paz e liberdade para todo o mundo – não seria melhor manter um comportamento mais low profile?

Afinal, vibrar nas ruas como se a guerra contra o terror tivesse simplesmente ganha é como tapar o sol com a peneira. É ignorar solenemente os efeitos adversos que a morte de Bin Laden pode desfechar sobre os Estados Unidos.

* É repórter especial de Política do Jornal do Commercio (Recife - PE). O texto foi originalmente publicado no blog pessoal do jornalista, o Polis Livre (http://www.polislivre.blogspot.com)

A Morte e a Morte de Osama Bin Laden


Thales Castro*

Embora o título sugestivo deste artigo quase homônimo ao livro clássico de Jorge Amado (A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água), nosso objetivo se distancia bastante da narrativa do escritor baiano. Na verdade, nosso objetivo aqui é outro: é apenas analisar, brevemente, a morte de Osama Bin Laden e suas repercussões no domínio das Relações Internacionais.

Mentor e dirigente da rede Al Quaeda (“A Base”, “O Fundamento”), Osama Bin Laden vivia em isolamento em locais que eram alternados entre as montanhas de Tora Bora, Afeganistão (primeiras imagens de satélite logo após o 11 de setembro de 2001 indicavam estar possivelmente nestes arredores) e cidades de médio e grande porte do Paquistão. Arquitetou, em forma de redes terroristas, seu ideário radical anti-americanista e anti-ocidental, operando em células em todo o mundo.

O milionário saudita Osama é tido como o principal planejador dos atentados de 11 de setembro de 2001 como também há evidências de ter ordenado outros atentados como os das embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia em 1998.

Outro fato marcante é que Osama Bin Laden inaugura, no dicionário político das Relações Internacionais, o conceito de “guerra assimétrica”, isto é, planejamento e execução de ações armadas em células terroristas contra Estados. Em outras palavras, Bin Laden inicia nova fronteira na política internacional com sua guerra não mais entre Estados soberanos, mas, sim, entre Estados e grupos terroristas.

O entorno do terrorismo é repleto de simbolismo. As muitas possíveis mortes (sic) de Bin Laden já estavam sendo aguardadas há muito tempo pelos EUA e pelos seus principais aliados. Refiro-me ao termo “mortes” no plural pela associação não somente ao assassinato de Bin Laden, mas, principalmente, pelos anseios de eliminação dos outros grandes líderes da Al Quaeda e do Taliban que possam sucedê-lo no posto.

Há indícios, inclusive, que o médico egípcio Ayman al-Zawahri possa alçar ao cargo da liderança deixada por Bin Laden. O grande desafio para a segurança internacional resultante da ação das células terroristas é que as mesmas articulam de maneira não horizontalizada. Ou seja, as células terroristas continuam ativas mesmo depois de eventual assassinato de um líder imediatamente superior na cadeia hierárquica.

Desse modo, há muitas perguntas sem a devida resposta que nos intrigam e nos motivam a investigar sobre as repercussões ainda latentes da guerra contra o terrorismo e da hegemonia dos EUA no início do século XXI.

Ao invés de interpretar a política internacional pós-11 de setembro pelo choque de civilizações (Huntington), a ONU tenta resgatar formas possíveis de diálogo com sua “Aliança para as Civilizações”. Será uma aliança ou um choque civilizatório que está sendo vivenciado atualmente? Poderá ocorrer um revanchismo sem precedentes pela causa fanática deixada por Bin Laden?

Talvez seja necessário amplo debate transnacional, talvez no intuito de criar um novo contrato social pós-Rousseau entre o secular e o religioso; entre o sagrado e o Estado. Nestas muitas dialéticas sagrado-estado e choque-aliança das civilizações, resta saber apenas se as palavras do Prêmio Nobel da Paz de 2009, o Presidente Barack Obama, são verdadeiras e terão longevidade: o mundo ficou melhor com a morte de Bin Laden – será mesmo e até que ponto?

* Doutor em Ciência Política pela UFPE, Bacharel e Mestre em Relações Internacionais pela Indiana University of Pennsylvania, EUA, é Cônsul honorário da República de Malta no Recife e colaborador do Olhar Mundial.