segunda-feira, 2 de maio de 2011
A Morte e a Morte de Osama Bin Laden
Thales Castro*
Embora o título sugestivo deste artigo quase homônimo ao livro clássico de Jorge Amado (A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água), nosso objetivo se distancia bastante da narrativa do escritor baiano. Na verdade, nosso objetivo aqui é outro: é apenas analisar, brevemente, a morte de Osama Bin Laden e suas repercussões no domínio das Relações Internacionais.
Mentor e dirigente da rede Al Quaeda (“A Base”, “O Fundamento”), Osama Bin Laden vivia em isolamento em locais que eram alternados entre as montanhas de Tora Bora, Afeganistão (primeiras imagens de satélite logo após o 11 de setembro de 2001 indicavam estar possivelmente nestes arredores) e cidades de médio e grande porte do Paquistão. Arquitetou, em forma de redes terroristas, seu ideário radical anti-americanista e anti-ocidental, operando em células em todo o mundo.
O milionário saudita Osama é tido como o principal planejador dos atentados de 11 de setembro de 2001 como também há evidências de ter ordenado outros atentados como os das embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia em 1998.
Outro fato marcante é que Osama Bin Laden inaugura, no dicionário político das Relações Internacionais, o conceito de “guerra assimétrica”, isto é, planejamento e execução de ações armadas em células terroristas contra Estados. Em outras palavras, Bin Laden inicia nova fronteira na política internacional com sua guerra não mais entre Estados soberanos, mas, sim, entre Estados e grupos terroristas.
O entorno do terrorismo é repleto de simbolismo. As muitas possíveis mortes (sic) de Bin Laden já estavam sendo aguardadas há muito tempo pelos EUA e pelos seus principais aliados. Refiro-me ao termo “mortes” no plural pela associação não somente ao assassinato de Bin Laden, mas, principalmente, pelos anseios de eliminação dos outros grandes líderes da Al Quaeda e do Taliban que possam sucedê-lo no posto.
Há indícios, inclusive, que o médico egípcio Ayman al-Zawahri possa alçar ao cargo da liderança deixada por Bin Laden. O grande desafio para a segurança internacional resultante da ação das células terroristas é que as mesmas articulam de maneira não horizontalizada. Ou seja, as células terroristas continuam ativas mesmo depois de eventual assassinato de um líder imediatamente superior na cadeia hierárquica.
Desse modo, há muitas perguntas sem a devida resposta que nos intrigam e nos motivam a investigar sobre as repercussões ainda latentes da guerra contra o terrorismo e da hegemonia dos EUA no início do século XXI.
Ao invés de interpretar a política internacional pós-11 de setembro pelo choque de civilizações (Huntington), a ONU tenta resgatar formas possíveis de diálogo com sua “Aliança para as Civilizações”. Será uma aliança ou um choque civilizatório que está sendo vivenciado atualmente? Poderá ocorrer um revanchismo sem precedentes pela causa fanática deixada por Bin Laden?
Talvez seja necessário amplo debate transnacional, talvez no intuito de criar um novo contrato social pós-Rousseau entre o secular e o religioso; entre o sagrado e o Estado. Nestas muitas dialéticas sagrado-estado e choque-aliança das civilizações, resta saber apenas se as palavras do Prêmio Nobel da Paz de 2009, o Presidente Barack Obama, são verdadeiras e terão longevidade: o mundo ficou melhor com a morte de Bin Laden – será mesmo e até que ponto?
* Doutor em Ciência Política pela UFPE, Bacharel e Mestre em Relações Internacionais pela Indiana University of Pennsylvania, EUA, é Cônsul honorário da República de Malta no Recife e colaborador do Olhar Mundial.
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