segunda-feira, 11 de abril de 2011

A eleição presidencial no Peru e suas semelhanças com a do Brasil de 2002


A sucessão presidencial no Peru se reveste de uma grande expectativa e de um enorme simbolismo político por conta do desempenho de um candidato: o nacionalista Ollanta Humala (foto). De origem indígena e dito candidato de esquerda, Humala lidera todas as pesquisas de opinião com percentual que lhe garante a primeira colocação no primeiro turno (33%) e o credencia como favorito para a vitória em segundo turno, em junho. Seria primeira vez que um aspirante esquerdista assumiria o poder no Peru.


Por essa particularidade, os fatos que rondam a atual eleição peruana guardam muitas semelhanças com o pleito brasileiro de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva conquistou seu primeiro mandato como presidente. A vitória de Humala é vista com desconfiança por investidores nacionais e estrangeiros em razão de seu passado de pregação por rupturas sistêmicas. A prova disso é que bolsa de valores de Lima amargou fortes quedas seguidas – chegando a 5%, a maior desde 2009 - nos dias que antecederam à votação, justamente quando Humala cresceu e tomou a dianteira nas pesquisas.


A ascensão de sua candidatura se deve a um discurso em defesa de mais distribuição de renda, fortalecimento de empresas públicas e nacionalização da geração de energia. A exclusão social está entre os principais problemas do País. A economia do Peru cresceu nos últimos anos a taxas entre 7% e 10%, superando por vezes os índices da China. Mas, apesar disso, 35% dos peruanos vivem abaixo da linha de pobreza. Quem tem se beneficiado do desenvolvimento econômico é a população da faixa litorânea do País – quem vive na região dos Andes e na Amazônia peruana está à margem dessa bonança.


A grande desconfiança dos investidores com Humala está relacionada à sua ligação com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Humala tentou a presidência em 2006 com discurso moldado pela cartilha anticapitalista do mandatário venezuelano. Ele chegou ao segundo turno, mas perdeu a disputa para o atual presidente, Alan García. Agora, o candidato peruano dá sinais de que trocou o radicalismo retórico de Chávez pelo pragmatismo consequente de Lula. Assim como fez o então candidato do PT em 2002, com sua Carta aos Brasileiros, Humala vem se esforçando para acalmar investidores internos e externos, garantindo que vai respeitar contratos e a autonomia do Banco Central.


Analistas peruanos são quase unânimes em apontar como única opção, como tática eleitoral, a postura de Humala de deixar claro que abandonou o radicalismo chavista e assumiu uma postura moderada inspirada em Lula. Seria a maneira de afastar a desconfiança do mercado quebrando resistências de um setor decisivo às eleições, mas que lhe é refratário, sem perder a sintonia com sua base eleitoral. A Carta aos Brasileiros funcionou com Lula.

Um comentário:

  1. O artigo esquece de mencionar que, antes de sua ascendência indígena, Humala é militar e já participou de tentativa de golpe contra o ex-presidente Toledo. Seu irmão, inclusive, atualmente está preso em razão desse episódio. A proximidade com o PT se dá por meio do marqueteiro petista, que é quem dá as cartas na estratégia da campanha.

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